sábado, 20 de março de 2010

É isso, afinal.

É como se eu fosse tocar violino depois de muito tempo sem estudá-lo, e tocasse tudo desafinado por causa da falta de prática. As notas saíam quase que ao contrário do que elas deviam soar. E depois de tanto ouvir minhas melodias desafinadas, resolvesse abandonar o instrumento, pois se eu estivesse em má forma, eu preferia não apresentá-la a ninguém. A frustração estaria somente dentro de mim.
Até que um professor de música se aproximasse e quisesse ver meu desempenho, afinal sabia que dentro de mim havia luz, e até certo talento. Ele tinha um pouco de razão; eu sabia solfejar e sabia o ritmo certo da música. Tudo estava claro na minha cabeça. Ele sabia disso, ele havia passado a partitura comigo.
Mas e os meus dedos? 'Não há nada de errado com os seus dedos', ele disse. 'Vamos, use-os'.
'Eu não sei.'
'Você o quê?'
'Não sei. Eu sei a partitura, mas não sei mais as posições dos dedos nem a afinação. Eu nem sei tocar esse troço direito.'
'Aposto que você sabe.'
'Não, eu não sei.'
Não, eu não sabia. Se eu não sei algo por completo, se eu não sei passar aquilo direito para algum outro ouvido, ou fazer algum improviso em cima daquilo mantendo a ideia principal, então eu não sei. Eu não domino a ideia, logo não a compreendo. Não existe meia verdade, meio saber. E não existe meio violino, que eu possa tocar sem usar os dedos, ou meia música, que eu possa tocar sem instrumento.