sábado, 30 de janeiro de 2010

O medo do desconhecido II

Escrever dói porque pensar dói. Então escrever dói duas vezes, porque penso no que estou pensando e penso no que estou escrevendo. Não consigo nem respirar direito, de tanto medo que estou sentindo. Medo de dormir. Medo de acordar. medo de ligar a TV e ver a imagem dos haitianos. Medo de ver a rua vazia lá fora. Medo de voltar a ler o que eu estava lendo e que me assustou tanto. Ou, como diz Clarice Lispector em "A Paixão Segundo G.H.":

"...mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser?"

Todos nós temos medo do que não conhecemos. É isso o que pondera [e controla] a nossa vida, é algo que temos desde crianças e temos de aprender a superar. Eu não aprendi. E não estou falando de pesadelos e bichos-papões. Estou falando do meu cotidiano.
Porque eu não vivo o que não conheço. Isso é bom de certa forma, mas reconheço que isso deixa a minha vida limitada. Quantas oportunidades e diversões eu já perdi por causa do meu medo, às vezes um medo banal, de dizer ou fazer algo pequeno, mas que faria toda a diferença?
E é isso o que eu estou querendo tirar. É isso o que os outros querem que eu tire para que eu não me incomode e por fim incomode os outros. Porque o medo é algo contagioso, e se não for medo puro, logo se transformará numa mistura de raiva e incompreensão alheia. O medo puro traz pena e repreensão. Mas medo puro quase não há, exceto bem lá no fundo do coração, que só a gente ou nossas mães reconhecem.
O meu medo que os outros conhecem não é puro, por exemplo. O medo de perder alguém está misturado com o ciúme; o medo do jeito de alguma pessoa [se ela é diferente, fala diferente ou se veste diferente] se mistura ao preconceito e repugnância.
O medo puro é aquele medo de criança, medo de coisas fantasiosas e não-realistas, que são superados com o tempo ou só crescem, dependendo de como voce convive com esse medo. Esse tipo de medo eu já falei no post anterior.
Uma coisa que eu pensei agora: o medo não-puro pode resultar à ignorância. Talvez por isso eu e tantas outras pessoas temos sido tão ignorantes uns com os outros, não por ignorância pura [porque ela é um resultado e não um sentimento 'livre'], mas por medo [im]puro, como se alguém fosse uma doença contagiosa. Mas não! A ignorância resultante é que tem sido contagiosa. Um dos maiores males cotidianos [como se precisássemos descobrir mais um! Mas também, se não descobríssemos, seria também um tipo de ignorância, pois é algo que não 'queremos' enxergar, e está aí acontecendo, comigo e com você].
Mike quis me alertar sobre isso, não diretamente é claro, mas através de muitas coisas, fatos e pessoas, tudo num grande quebra-cabeça. Tenho que agradecer a ele por ter abrido os olhos de muitas pessoas, que finalmente ajudaram a abrir os meus. Ele quer me tirar da ignorância. Ele quer que eu não tenha mais medo.
Talvez por isso eu esteja com meu coração tão apertado de medo, pois é como estou me sentindo agora. Sinto que estou nos meus momentos finais de medo [não que não vá demorar a me livrar disso, mas é como o começo de uma quimioterapia, que é longa e dolorosa, mas de certo modo benéfica].Tenho lido muitas coisas, passagens bíblicas, hoaxes, mortes mal-resolvidas, símbolos e coisas sinistras para entender o que está acontecendo com o mundo e o que ainda vai acontecer, para que eu esteja preparada para o que vier. Me chame de louca, mas não diga que o que estou fazendo é inútil. Eu estou trabalhando, estou ME trabalhando.
Tudo o que tenho lido até agora desde o dia 25 de junho [sim!] é um aprofundamento de todas aquelas coisas das quais tinha medo nos meus 9 anos de idade. Estive lendo com medo, e me perguntei se valia a pena enfrentar. É claro que vale. São coisas que estão acontecendo à minha volta e não posso ignorar.

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