sábado, 30 de janeiro de 2010

O medo do desconhecido.

Ainda me lembro de tapar os ouvidos assim que ouvia uma reportagem qualquer sobre ETs no Fantástico, de chorar e implorar aos céus para parar de chover, de esconder o rosto no travesseiro assim que via o Diabo do filme 'O Auto da Compadecida' e de passar bem longe da Bíblia Sagrada e mais ainda do livro do Apocalipse. Ainda me lembro do meu enorme medo de morrer, de como esse medo descontrolado me incomodava e me impedia de fazer as coisas mais banais, como simplesmente ir à praia, só porque havia uma nuvem negra no céu. Eu odiava chuvas, eu odiava morros, odiava escadas, ônibus que andavam rápido, aviões e figuras sobrenaturais. Eu odiava a morte.
Me surpreendo até hoje como é que uma criança bem-criada como eu [sem pais que me espancaram ou morreram cedo ou viver em favelas e lugares de risco, por exemplo] pôde pensar tanto em morte, sem motivo pra isso. Eu era uma criança muito medrosa, e não conseguia nem me mexer quando via muros com citações do Apocalipse pelas ruas dizendo 'o fim está próximo!'. Eu não entendo o motivo para tanto medo.
Isso aconteceu entre os 8 e 9 anos, quando eu descobria o que era bom e ruim, o que era perigoso ou não, entendi que pessoas morriam o tempo todo. Com o tempo isso foi passando, mas é claro que deixou muitas marcas. Traumas não, pois aprendi a superar; ontem mesmo eu estava pesquisando umas coisas na Bíblia [coisa que eu nem me atrevia a fazer com medo dela emitir algum tipo de magia ou sei lá, coisa de criança], mas deixou marcas e uns pensamentos negativos em minha cabeça.
Uma das marcas foi, o que descobri de uns meses pra cá, é o medo do desconhecido. Tenho trabalhado esse meu lado medroso dia após dia, mas essa metamorfose dói tanto que, vendo certas coisas à minha volta, deixam até minha respiração desconfortável. Mas eu não posso desistir. Eu sinto que tenho que estar preparada para tempos piores, para não sofrer mais.
Mas voltando ao medo do desconhecido: eu ainda tenho medo de escuro. Eu sei que devia ter aprendido a superar isso, mas não consigo, por pura falta de confiança. Eu não acredito, eu não CONFIO que, quando eu fechar os olhos, não terá algum vulto de capuz em volta da minha cama, ou dez, cem desses vultos, prontos para me pegar e me matar [?]. Fecho os olhos por um minuto e logo os abro, 'esperando' ver algum impostor pronto para me levar sei-lá-para-onde. Faço isso uma cem vezes, para depois, sabe-se lá como, finalmente dormir.
Eu tenho a teoria de que, quando você acredita em algo, esse algo realmente existe [e vice-versa], pois TUDO nessa vida é psicológico. Então, penso que se eu acreditar firmemente na existência do bicho-papão, eu vou começar a vê-lo em todo lugar no meio do escuro, e então pronto, ele está lá, ele existe. O problema é que eu sou uma pessoa fraca demais, com a confiança fraca demais, para acreditar mais numa teoria que, apesar de certa, foi aceita muito recentemente na minha mente, enquanto o medo está instalado em mim há mais de seis anos.
Mas um dia eu vou superar o medo do escuro. Eu sei que vou. Eu sei que TENHO que superar essa 'bobagem'. Até porque, a gente tem é que ter medo dos vivos, que estão por aí nos assombrando de verdade. Não que eu não tenha acessos de loucura às vezes, e penso que há um ladrão com uma faca na não ao lado da minha cama. Ou dois, três deles. Aí é que eu não durmo mesmo, só quando amanhece, pois 'quando há luz... não há trevas'.
E sobre morrer? Não sei. Morrer é um 'medo do desconhecido' também, mas é um mistério tão grande que não consigo nem pensar direito sobre morte. É como se por enquanto ela não existisse, mas sei que ela está aí, quieta, o mais próxima ou longe possível. E também porque eu penso que morrer é como uma etapa da vida que a gente vai ter que enfrentar, e se temos que enfrentar, não vai ser em vão. Ruim é viver em vão. Se eu morrer, eu morri. Não sentirei mais dor. Então não deve ser tão ruim assim. Pior é viver eternamente com dor. Além disso há aquela famosa possibilidade de reencarnação. Mas isso resolveremos depois, lá com o nosso Pai. Não cabe a mim pensar nisso agora.
Se bem que tenho pensado muito sobre morte. Não a minha, mas a de todos. Do que eu vou fazer se cada um daqueles que eu amo morrer. E os que já morreram. E os que ainda vão morrer, os que estão em risco, aqueles desgraçados haitianos que não tiveram oportunidade de ter uma vida fácil, brigam pela vida, mas aposto que aceitam a morte como uma cura, uma forma de fazer desaparecer a dor que sentem desde que nasceram. Isso me deixa tão mal. Os que vivem mal e morrem mal.

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