sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

The man in my mirror.

O problema não é um dia ter sido [ou ainda ser] louca. O problema mesmo é saber que eu não era [sou] a única do mundo. Pelo contrário. Eu sou uma entre MILHÕES. Isso é tão esquisito.
Eu não sei se isso me deixa desconfortável ou mais à vontade para compartilhar os meus segredos, ou melhor, que eu tome parte e me identifique nos segredos dos outros, tornando-os meus.
Mas já que essa é a realidade, quero falar sobre ela. Que realidade é essa da mente humana feminina? Uma realidade que não existe. Ou melhor, que não existe mais.
Prender-se ao passado é um dos maiores erros do ser humano. O passado existe para todos nós de uma certa maneira, de modo que as coisas se amenizem, mas... é tudo tão formado tão sobre nós, de nós, e para nós, que transforma tudo em uma coisa LOUCA além de inexistente.

Eu já tinha consciência disso nos meus onze anos de idade. Eu era tão louca, mas tão louca que era capaz de enfrentar a minha loucura com a lucidez dos incrédulos. Eu era incrédula, mas era louca porque ser louca já era parte de mim.
E eu vivia me escondendo. De dia era não. De noite era sim. Não me lembro o porquê. Só sei que era.
O fato é que eu quis me tratar do meu princípio de loucura. E comecei logo: pus limitações às asas dos meus sonhos. Eu só poderia voar onde eu sabia que tudo era real, dentro das condições físicas, psicológicas e reais, tanto minhas quanto dele.
É estranho, mas eu fiz. Nada de coisas exóticas ou que não existissem. Tudo sempre dentro dos meus limites, eu já sabia que, se voasse alto demais, eu poderia ter uma queda terrível.
Isso me traz sérios problemas hoje, como constante repressão, emocional, física e sexual. Mas eu não me importo, pois só eu sei onde as minhas ilusões me levam, portanto se eu não queria cair, eu não poderia voar. Mas mesmo assim eu voava. Eu burlava minhas próprias regras, pois chegou uma época em que minhas asas se tornaram incontroláveis e voavam por si próprias. Então eu voava, mas tentava pôr os meus pés no chão o mais rápido possível. Era uma terapia bastante árdua, mas era necessária, pelo menos naquela época. Hoje em dia, com essa pressão emocional, física e sexual em que vivo, ela precisa desaparecer o mais rápido possível, e devo admitir que estou fazendo um pouco de progresso, aos poucos, enfim. O pior já passou.

Enfrentar isso com ele foi o mais difícil naquela época. Eu era uma menina tão sonhadora. E então não tentava esconder a minha mente de tudo o que estava se passando, pelo contrário. Eu tentava amá-lo exatamente como era, apesar da opinião geral, que estava na cara, mas eu tentava esquecer. Para isso eu buscava compreender que ele nunca deixaria de ser quem é, pois aquilo que era realmente essencial e REAL, era exatamente o que eu precisava [só precisava descobrir isso, mas não levou muito tempo]. Eu sempre fui uma garota de aparências, mas se quisesse voar com ele, eu teria de enfrentar tudo, teria de me libertar dos meus princípios e senti-lo exatamente como ele era. Se a idade importava? Sim, e eu tinha muito medo disso. Mas eu tentava deixar isso de lado e fazíamos o que quiséssemos e onde quiséssemos. Ele, do jeito que ele era. Eu, do jeito que eu tinha certeza de que iria ser [e sou]. Eu achava isso tudo uma loucura, mas era bom demais para ser abandonado. Eu tinha o maior amor do mundo guardado só para mim, do jeito que eu queria, do jeito que poderia ser um dia, porque eu não estava fingindo nada. Na verdade eu estava até PLANEJANDO. Para quê e para quando, eu não sabia. Só sabia que estaria pronta. Quem sabe.

Isso me deixa tranquila, afinal. Porque quando ele precisou de mim mais uma vez, eu não me sentia mais sozinha, pois eu estava mais madura e sabia o que as outras pessoas pensavam à minha volta. E surpresa, elas eram como eu! E não tinham adotado a minha terapia, e sequer iriam querer adotá-la, pois o amor delas era tão mágico quanto o meu. E isso demora um pouco para se definir na minha cabeça, pois ao contrário de mim, elas ainda clamam por aquilo que não existe mais.
Mas é claro que admitem o hoje. E eu fico feliz por isso, porque vejo que eu não sou a única que luta contra as aparências, e acham elas muitas vezes melhores que muitas outras ilusões. Porque é o que temos, e não reclamamos, porque sabemos que talvez seja melhor assim.

Amá-lo foi a única e melhor prova de que eu podia amar alguém além das aparências. Eu nunca vivi um amor assim. Só com ele. É com esse mesmo amor que eu cresço e tenho tanto medo de perder ou descobrir que o meu amor não é tão grande como deve ser. As pessoas amam de várias formas, e mesmo que seja da melhor forma possível, as pessoas não agem como amam. Eu sou o maior exemplo disso.

Então eu fico realmente desconfortável em ver que há muitos, muitos, muitos mesmo, mas muitos tipos de amores. Correspondidos ou não. Há os amores que ficarão esquecidos [e isso é amor?]. Há os amores que durarão para sempre por algum motivo, e se este desaparecer, o amor também desaparecerá [isso é amor?]. Também há aqueles seres impecáveis que amam há muito tempo, e por isso vão amar para sempre [este é o melhor tipo, mas é para poucos]. E ainda há aquele amor tardio, que embora fique eterno, não existia enquanto precisava dele [e isso, é amor?]
Fico pensando se é alguma regra ter algum tipo de amor para ser correspondido. Porque muitos o tiveram, nem que tenha sido por um instante, mas isso é o suficiente. Será que eu nunca vou ter? Será que outros, que possuem com certeza um amor muito melhor que o meu, não terão a chance? Será que nunca vou ter porque o amor é uma loteria, ou porque é destinado àqueles que têm um tipo de amor raro e indescritível? Será que vou possuir esse tipo de amor um dia por alguém que realmente está ao meu alcance?

Será que vou encontrar o melhor e maior amor da minha vida um dia?
E será que ele vai sentir que meus sentimentos são genuínos? Será que poderei dizer o quanto é genuíno? Será que ele vai achar que é verdade?
Porque é fácil dizer que é amor. Mas mostrar nunca foi o meu forte.

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