quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Para ele... que me pediu isto, mas nunca o verá.

Você pediu para que eu escrevesse sobre mim. Apesar de eu não ser uma pessoa excepcionalmente notável, minha história até que dá um bocado de linhas. Você estará dormindo antes de ler a metade dela, com certeza...
Não sei você, mas acho que eu tenho tempo. São quase onze horas, e meu sono não é o bastante para que eu sinta saisfação ao cair na cama e dormir logo, e eu preciso realmente sentir isso, caso contrário eu ficarei rolando por lá até as quatro da manhã. E isso não é bom. Ficarei mais exausta do que já estou.
Mas você deve estar perguntando por que eu estou tão exausta, se acabei de começar. Não, eu não estou começando. Estou me preparando para terminar. Não é bem 'terminar', mas sim prosseguir. Apesar de ter aprendido muita coisa, sinto que não sou nada comparado àquelas pessoas que admiro tanto, que realmente fizeram alguma coisa por seu destino.
Estou exausta também porque o mundo é muito exausto. Cada dia exige-se mais dele, e parece que quanto mais as pessoas se esforçam, menos preparadas elas ficam. E isso é IRRITANTE. É uma fase da minha vida que todos passam [e passam mal, literalmente, muitas vezes], alguns fazem escolhas certas, outros não. Eu acredito que as minhas escolhas estejam certíssimas, mas o preparo para elas ainda é fraco. Há tanto o que fazer, tanto...
E terei que abrir mão de muitas coisas. De muitas pessoas que amo e de você, que eu poderia amar muito. Eu te acho alguém realmente especial e admirável desde a primeira vez que o vi. Isso é bom. Faz tempo que não conheço alguém assim. Geralmente eu descubro que as pessoas que já conheço são assim, mas de cara, como você, é quase impossível. A última vez se resultou num desastre, e não me permita lembrar como, por favor. Tudo o que eu preciso é de você. Você tem sido uma divertida e inteligente distração. Eu te vejo como uma pessoa bonita, sabia? Eu gostaria de lhe dizer isso, mas acho que já sei o sorrisinho irônico que você vai dar. Mas quer saber? Eu adro ele.
Mas chega de falar de você. É para falar de mim... é aqui que a minha 'composition' começa, como você pediu.
Para começar, você me fez ver que eu mudei muito. Eu percebi isso quando você disse que eu não era muito parecida com meu irmão, o que é um MILAGRE. É claro, porque você não viu aquela menina quieta e sonolenta, que não acrescenta nada na sua vida, mas viu uma menina disposta a fazer alguma diferença no mundo. Para aprender a fazer essa diferença foi preciso um esforço enorme e muitos, muitos erros. Erro até hoje, se quer saber. Mas é com esses erros que eu aprendo.
Tudo o que você vê não é o que eu sou, mas o que eu quero ser. Você deve estar se perguntando se, eu estou sendo aquilo que eu quero ser, o meu objetivo está feito. Não está não; há muito o que melhorar. Isso é só o começo.
Eu sou uma garota cheinha, com um cabelo parecido com o daquelas menininhas fofas de capa de caderno Jolie. Esse cabelo não sou eu. Mas é o que eu sempre quis. Ele não pertence de fato a mim, porque eu o aboli por muitos anos com o vício do secador, com o desejo de ter uma autenticidade [para que pessoas como você consigam me ver] que procurei por muitos anos e só fui achar agora.
Eu disse que eu era cheinha; mas olha só, isso depende do seu ângulo. Como você só me vê sentada, estudando, deve imaginar que eu seja alguma nerd tentando chegar a algum peso satisfatório, mas não conseguindo. Eu sou uma pessoa que engana em muitos aspectos, principalmente na estética. Eu tenho que te dizer uma triste verdade: eu sou uma bailarina. SOU. Gorda ou magra, isso está dentro de mim, desde os meus cinco anos. Eu sinto isso, e essa é a minha integridade, então, mesmo sendo meio difícil, tente olhar o ângulo onde você veja uma bailarina, uma pessoa que se sente uma bailarina. Porque não chego e faço a aula e pronto. Eu gosto de entender a filosofia de cada passo, cada nervo e vértebra se alongando em cada lugar, a rotina das aulas é especial, a força que aplicamos para que pareçamos leves é extremamente especial [e difícil]. Eu sinto isso, e eu tenho que dizer que é mágico.
Sim, meu corpo é algo mágico [cheinha como sou e tendo uma elasticidade como eu tenho, nem é mágica, mas sim um milagre!], e isso aumenta num palco. Eu sou doente por palco. Quero estar lá de qualquer jeito, dançando ou tocando. Sim, eu toco um instrumento, o violino, e apesar de ter começado recentemente, eu descobri um amor tão grande pela música quanto pela dança. Eu sinto, sabe? Eu sinto meu coração bater mais forte.
A minha ligação com a arte é muito grande, desde pequena. Eu costumava desenhar e pintar muito, e isso foi o ponto de partida para o meu feeling artístico, embora só tenha durado a época da minha infância. Entendo muito de cores e formas, mas eu não consigo desenhar um rosto bem feito ou um pé, uma mão, uma árvore. Talvez tenha sido a falta de prática, porque na verdade eu perdi a vontade porque não conseguia reproduzir as minhas ideias no papel, e isso quando eu tinha ideias.
Porque não costumo ter ideias. Eu costumo realizá-las. Não gosto de pensar em mim como uma professora, uma coreógrafa, escritora ou compositora, simplesmente pelo fato de ter que criar muitas coisas, métodos e outras. Eu posso aperfeiçoar uma ideia e executá-la, mas só se você me disser algo primeiro. Eu sou muito boa com atividades manuais, entre elas, escrever, às vezes. Mas eu não escreveria um livro, pois um livro é algo importante demais para ser escrito banalmente.
Muitas pessoas me superestimam, mas acho isso uma droga. Eu gosto de me sentir especial, gosto mesmo, mas ficar falando que eu sou uma pessoa notável é um exagero. Porque eu sinto que a minha imaginação é algo diverso, mas não permanente. Eu não consigo ter ideias de uma hora para outra, principalmente sob pressão. Pressão é uma coisa que eu odeio.
Ah, você disse que eu parecia uma pessoa legal. Eu sou legal, sim. Mas só até você se acostumar comigo. Na verdade é o que acontece com todas as pessoas, mas as pessoas se decepcionam muito comigo, e quando isso não acontece, eu é que me decepciono com elas. Isso não é nem um pouquinho legal, né? é estranho dizer, mas eu me canso das pessoas. Eu gosto daquelas que me intrigam, que me fazem pensar o tempo todo, para que no final eu aprenda algo. Sofro muito com esse tipo de pessoas, dizem que eu devia me afastar delas, que elas me fazem mal, e de fato fazem às vezes, mas estou aprendendo a ser menos vulnerável. Estou aprendendo a ouvir a verdade e não me esconder dela, para ter menos dor. É disso o que o mundo precisa.
E você é bem intrigante, sabia, moço? Por mim eu me casaria com você, mas acho que a minha mãe não ia gostar muito disso. Ela acha você estranho. Mas não me importo, eu sei que você é legal.
Uma vez me disseram que eu era uma grande mentira. É a única verdade, eu acho. Eu sou aquela mentira que você adora contar para todo mundo, mas ela te machuca porque você sabe que não é verdade, mas a mantém para sobreviver. Mas eu estou procurando pela minha verdade, e os seus olhos me dizem que estou começando a achá-la.
E parece que agora eu estou com sono. Acho que vou dormir. Espero que você esteja bem. Eu imagino você dormindo, deve ser muito bonito. As minhas amigas não o achariam, talvez por causa dos seus dentes, mas eu não ligo para isso. Há alguém que eu amo que tem dentes brancos, bonitos e pontudos, que me mordem tanto por dentro quanto por fora, e isso me machuca todo dia. E espero que você não seja capaz disso. Porque você é uma fuga agora. Uma fuga básica, mas necessária.
Te adoro.


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