quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Para Escobar... que no fundo é tão frágil quanto Bento Santiago.

Não é a primeira vez que te escrevo, e fico cada vez mais aliviada por você não ler nada disto! Você não precisa, nem merece. Você leu a minha primeira carta, e entendeu. Mas naquela havia sentimentos concretos. Ou pelo menos eu PENSAVA que eram, na época. Foi bem especial, pelo menos...

Não posso esconder minha idolatria por você; é tanta que chegam a duvidar, desdenhar dela. Talvez eles tenham razão.
Mas mesmo assim, eu não vou te deixar. Você mudou meu mundo. Você me fez ver tantas coisas, e não foi embora como os outros. Mais: EU não FIZ você ir embora, como os outros. Eu disse pra você ficar. Você ficou. E não consigo acreditar nisso. Talvez aí esteja o problema.
As minhas incertezas são tantas, mas tudo o que eu tenho que fazer é seguir em frente, para ver onde vai dar. Eu já cheguei a tantos extremos por sua causa, e muitos não foram bons. Aos poucos vou construindo meu equilíbrio. Você poderia fazer o mesmo [não vou esquecer daquele soco, que não foi no estômago ou no ombro, foi no coração]. Eu conquistei a sua confiança. Incrível! Lisonjeador, mas... perigoso. O fardo é maior. O amor é maior. E a decepção muitas vezes é maior, como já percebi. Esse é o meu maior medo, o de dar um passo em falso. Mas percebi que não sou eu que dou: sim, eu dou, mas você o torna algo maior e mais cansativo, que se torna contra você. Não faça isso. Você sabe que eu te amo.
Mas esse amor é... estranho. Teve uma vez que eu achava que era obsessão, eu EXIGIA que você estivesse do meu lado [quando já estava!] mas eu queria mais. Queria você por inteiro. Eu não queria que não ficasse nada de fora, nenhuma fresta, para não correr o risco de você escapar por essa fresta, por menor que ela fosse.
Mas hoje [hoje não, algum tempo, mas tomei consciencia da palavra só no dia de hoje], percebi que era outra coisa. Não era amor nem obsessão [talvez seja amor, mas ele não é carnal, mas tambem nao é puro], é algo bem terrível: medo. Medo de te perder. Medo de um dia do futuro eu acordar e ver que o tempo que não passei ao seu lado foi um tempo perdido, um tempo que deixei de aprender, de conversar, de olhar nos seus olhos tão pequenos e tão profundos. E colocar as mãos na cabeça e dizer: o que eu fiz? onde eu estava?
Porque eu já sei como é.
Ele.
Ele era igual a você.
E eu o deixei ir.
Eu estraguei tudo, eu, essa bruxa que você ama tanto quanto odeia. Sim, eu sou uma bruxa e estou te levando para o fundo do meu castelo sombrio [e não o contrário, como eu pensava, meu sedutor!], e nem estou forçando. Sim, eu forcei, e me machuquei. Machuquei você também, e isso me fez mais mal ainda. Não vou fazer mais isso, prometo. Mas não digo isso por você. Digo isso por mim.
Eu estava mal porque eu ficava mal em te fazer mal, embora você pensasse que eu estava me sentindo bem; eu não estava. Minha tentativa de te fazer mal era só para fazer diferença àquelas tolas que te idolatravam. Quem sabe, se eu te mantesse longe, você quisesse chegar mais perto.
Eu consegui, afinal. Sim, eu consegui. Mas eu não ganhei o príncipe sedutor que eu achava que você era. Eu consegui foi um frágil menino que tinha medo de mim, e enfrentava esse medo bravamente por pura curiosidade e admiração. Se machucou tantas vezes, não é, meu menino? Eu também.
Eu me perguntava [e faço isso até hoje, se quer saber] o que você estava fazendo ao meu lado. Seus amigos e estilo de vida são diferentes, além das preferências [coisa que eu acho muito chato, você sabe]. É verdade que nosso amor é igual, mas nossos propósitos e 'modus operandi' são um pouco diferentes. Eu sei disso e você faz questão de reforçar. Mas diga que não é verdade que sou EU quem te completa? Você é a minha cabeça e eu sou o seu braço.
Você é tão diferente de mim mas na verdade é tão igual; esse é o nosso conflito. Você não admite que somos iguais. Mas não vou dizer nada. Você é que vai descobrir sozinho. E quando descobrir, quem sabe não terei você por inteiro?
Mas será que ainda vou querer?
Bem, não vou pensar nisso agora. Preciso pensar em mim, afinal enquanto estava querendo te encontrar [dentro de você], quem eu encontrei? A mim mesma! Não é irônico?
Você não sabe disso, e nem vai saber. Esse vai ser o meu segredo para conviver com você, porque será conviver comigo.
Não sei se me amo, e nem sei se te amo também. Mas quem sabe se sim?



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