segunda-feira, 30 de maio de 2011

'Everything we had, is no longer there...'

Ela era uma atriz renomada e nunca tinha visto o garoto na vida. Eu estava ao lado dele, a gente estava no backstage. Tudo o que eu lembro é que uma de nossas mães o levou para perto dela, e num segundo já tinha o rosto dele entre suas mãos, dizendo 'gente, que garoto bonito!'
Ele sempre foi bonito. Ele sempre foi marcante, sempre chamou a atenção. Hoje em dia muitas pessoas não o achariam bonito, mas as lembranças e impressões que eu tenho fazem dele alguém que tinha nascido para ser alguém.
- O que você quer ser quando crescer?
- Cantor...
- Hum?
- ...se Deus quiser.
- Se Deus 'chinzé'?
- É 'se Deus quiser', não 'se Deus chimpanzé'. Você chamou Deus de chimpanzé. Pede desculpa.
- Mas eu não falei 'Se Deus chimpanzé'!
- Falou sim.
- Não falei!
Ele era de todo mundo e eu sabia disso, mas e daí? Dentro do nosso castelo, EU era a sua dona. É claro que eu não tinha o poder de mandá-lo fazer qualquer coisa, aliás, eu adorava a idéia dele ser meu ídolo, meu líder, meu herói. Mas eu sabia que ele me amava. Da maneira mais pura que alguém poderia amar, e porra, eu me sinto uma ridícula escrevendo isso, mas é a verdade. Era uma coisa pura, porque não havia mais nada além de amizade. Mas eu sabia que ele me amava. E ele sabia que eu o amava também.
- É namoro ou amizade?
- Amizade.
Era o aniversário dele, e ele estava entre os colegas idiotas e eu tinha ouvido atrás da porta e tinha achado lindo. Eu desprezava todos aqueles garotos, eles eram uns idiotas perto dele. Ele era realmente um príncipe encantado. O MEU príncipe encantado. E minha maior ambição era deixar ele descobrir que eu era a princesa dele.
- Essa é uma 'paradinha' minha que se chama Tiazinha.
- Ela é feia. Que que isso?
Revistas Playboy.
- Não mexe Fernanda, não mexe, depois sua mãe vai ficar triste comigo!
- Não vai não, ela não vai saber..
- Não, Fernanda. Não mexe. [ele guardou e eu não tornei a mexer.]
A 'paradinha' era um chaveiro. Havia muitas imagens de mulheres escondidas no quarto, eu comecei a perceber a partir daquele dia. Mulheres mais bonitas do que eu jamais serei. Mulheres que tiravam a atenção dele de mim. Isso não estava ficando bom. Mas eu logo esquecia, eu não fazia esforço nenhum para parecer mais bonita. Eu tinha outros garotos na época para dedicar meu tempo e minha beleza à eles, mas saber que ele estava dedicando seu tempo à beleza de outras mulheres me deixava mal. Algo estava faltando em mim, e minha alegria e disposição não supriam essa falta.
- Fernaanda, olha, eu tenho músculo.
Ele mostrou uma bolota vermelha no braço, parecia uma espinha ou picada de um bicho.
- Você sabe como ter músculos?
- Não.
- É só deixar uma formiga te picar.
Eu lembro de um dia ter reparado o quanto ele estava bonito, muuito tempo depois. Nosso tempo já estava acabando, e não daria para eu fazer nada para chamar sua atenção. Ele estava mais focado no meu irmão, e toda a tecnologia que começou a surgir. Eu não ligava de ter sido deixada de lado porque eu tinha outras coisas com o que me preocupar. Mas é claro que eu sentia falta. Mas também sabia que eu não ia ter todos aqueles momentos de volta. Então fiquei quieta.

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